sexta-feira, 11 de maio de 2012

E então, com os olhos avermelhados, as bochechas rosadas e úmidas, os pulmões movendo-se em espasmos devido aos soluços, ele olhou para mim. Aquele tipo de olhar que entrega tudo, que te deixa transparente e o mais vulnerável possível. Eu podia enxergar todas as suas dores, mágoas, decepções. Era como se ele fosse um filhote abandonado, frágil e com medo. Entre os soluços, com os olhos ainda fixados em mim, ele me fez uma pergunta. "Quando foi que o mundo se tornou tão frio?"
Eu desviei o olhar, desconfortável por saber que eu não tinha uma boa resposta para aquilo. Quando foi que o mundo se tornou tão frio? Quando foi que as pessoas começaram a adorar objetos e usar pessoas? Quando foi que o ser humano passou a ter um valor tão baixo, digno de pena, inúmeras almas tornando-se nada além de objetos irrelevantes? Quando foi que se tornou comum pessoas matarem umas às outras, machucá-las, quebrá-las como se fossem um brinquedo? Eu não conseguia me lembrar de quando as coisas mudaram ao ponto de se tornarem vãs, descartáveis.
"Eu não sei," respondi sinceramente. Abaixei os olhos, fitando o chão e balancei os ombros de forma despreocupada. "Já estava assim quando eu cheguei."

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