sexta-feira, 6 de novembro de 2009

E assim, eu desapareço

Estava frio e ventava muito. Meus olhos pousaram sobre uma pessoa, sentada a uma distância suficientemente grande para que ela parecesse pequena. Seus cabelos esvoaçavam conforme o vento batia de encontro à ela, e, quando me viu, sorriu com grande êxtase e acenou. Podia ver a felicidade em seus olhos quando encontrava a minha imagem, por mais longe que fosse. Eu sabia o que se passava em sua cabeça, quais eram seus sentimentos. Eu podia vê-los claramente em cada ação direcionada a mim. Eu podia vê-los com mais certeza do que os meus próprios, que se misturavam como vultos. Eu queria fugir para onde não me conhecessem e então, não tivesse que tomar decisões. Aquilo não fora meu objetivo, desde o princípio. Mas eu não podia deixar que outros se machucassem porque eu era arredio. Não queria ver uma lágrima sequer ser derrubada enquanto alguém gritava meu nome. Eu ainda era observado, pela mesma pessoa, que agora se sentara e abraçava suas pernas. Esbanjava uma inocência que chegava a ferir-me apenas com sua presença. Não que eu fosse tão pecador, eu era apenas... humano. Um humano, observado por um anjo. Desencostei-me da parede onde estava apoiado, e me levantei. Eu ainda tinha a sua atenção. Por quê? Não queria ser tão observado. Pensava que poderia ter meus pensamentos e medos descobertos, e aquilo não era nem um pouco bom. Seus suaves olhos ainda me encaravam, quando virei-me na direção oposta a eles e comecei a caminhar. Não era um adeus, pelo menos não naquele momento. O frio cortante passava por mim, mas naquele instante eu não conseguia fazer nada para proteger-me dele. Estava ocupado demais perdido em meus pensamentos. E agora, meu amor? Seria melhor deixar-te enquanto a única coisa que você carrega em sua mente sobre nós dois são sonhos, ou devo dar-lhe memórias para se lembrar quando eu já não estiver mais aqui?

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