sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Indolência

Já não sinto mais dor. Sei que não estou morto apenas pelo fato de ainda ouvir meu coração bater, e sei que ele bate por obrigação. Eu não queria ser assim, não mesmo. Mas eu simplesmente já não sinto mais nada. Não tenho mais emoções à flor da pele, não expresso mais minha felicidade. Meus ossos estão enfraquecendo à medida que a apatia toma conta do que restou de minha alma. Posso sentir a frieza adentrando-me, corroendo meus órgãos, que são tudo o que restou de sólido em mim. Sou apenas um corpo frio, imóvel, leve. Já não me lembro mais da última vez em que senti aquele calor de ansiedade por algo bom. Não me lembro mais da cor dos meus olhos sob o efeito da brilhante e reluzente simpatia. O que aconteceu comigo? Não quero acordar todos os dias pensando sempre a mesma coisa. “Por que acordei?” Não quero mais sentir a mesma angústia todos os dias, não quero sentar e esperar a hora de minha morte. Não quero ser um boneco, sem movimentos ou sensações. Não quero mais fingir que está tudo bem, porque simplesmente não está. Eu quero respostas. Onde está a minha antiga alma? Por quê – ou quando – a melancolia se tornou uma parte do que sou? O que aconteceu com todos aqueles sorrisos, aquele calor na expressão de um sincero olhar de felicidade? Por que eu estou preso dentro de meus próprios pensamentos, barrado pelas fracas lembranças daqueles que algum dia me fizeram sorrir? Eu quero voltar a sorrir. Quero ser expressiva, sem trair a mim mesmo, sem mentir dizendo “está tudo bem”, quando não está. Quero ser sincero, mas sem magoar os outros. Viver. Eu quero acordar desse pesadelo. Deixe-me acordar desse pesadelo.

Um comentário:

  1. Estopim: Artefato destinado a pôr fogo a uma carga de pólvora, empregado outrora para canhões e hoje para minas e bombas explosivas.

    Eu vim ler este texto procurando o mesmo que você quando escreveu, o estopim.

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