sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Rest in pieces

O último pôr do Sol deixou-se vencer pela escuridão que circundava o céu com escuras nuvens, que carregavam o fim de mais um dia. Com o coração em mãos, deixou sua casa, sem saber, pela última vez. Sabia que algo estava errado, e temia por isso. Depressivo, sempre sonhou com o dia em que morreria. Tentara suicídio múltiplas vezes, até desistir de sua própria morte. Sem rumo, andava por ruas obscuras, procurando o motivo de ainda estar vivo. Foi então que a conheceu. Olhos claros, cintilantes, cabelos com o brilho que iluminou sua vida de uma vez por todas, afastando suas desilusões, seus tormentos. Tinha encontrado, finalmente, sua razão de viver. O motivo que tanto procurara. E então, naquele dia, ele sabia que algo estava para mudar. Suas mãos trêmulas, seus olhos angustiados apontavam o fim de algo que ele não queria. Sonhara por tantos anos desiludidos com aquela hora, quando morreria, deixaria seu passado e sua vida para trás. E agora, era o que ele temia. Preso entre ferragens, com cacos de vidro cortando sua pele, penetrando seu corpo friamente, ouvia um som diferente. Um silêncio inusitadamente ensurdecedor, mórbido. Sua pulsação, desacelerada, anunciava a chegada do que um dia fora sua maior ambição e agora era seu maior medo. E pensar, ironicamente, que um dia ele realmente quis que tudo acabasse daquela maneira. Hoje, assustado, rezava para que conseguisse sair vivo dali e pudesse dizer que a amava mais uma única vez. Sim, ele mudara de idéia. Tinha medo da morte, mais do que qualquer outra coisa. Por que mudar de idéia e temer algo que sempre almejou? Porque agora ele tinha algo a perder. Toques, abraços, sorrisos, memórias, emoções. Ela. Seus sentimentos, porém, ele não poderia perder, não importa onde estivesse. Fechou os olhos, com a pretensão de já acostumar-se ao mundo negro que invadiria sua mente; suspirou, procurando sentir o doce perfume de sua amada, mas tudo o que sentiu foi o cheiro enferrujado de sangue. Seu sangue. Sua alma. Sua perdição. Foi assim, com o coração acelerado, olhos lacrimejando e respiração beirando o inaudível que ele viu, pela última vez, o rosto da garota que mudara a sua vida desaparecer numa escuridão que duraria a eternidade.

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